24 agosto, 2009

Arte Gótica







Interior da Basílica de Saint-Denis, ao norte de Paris, a primeira arquitetura gótica da Europa, cujo coro foi consagrado em 1144.



O estilo gótico foi criado no século XII. A primeira obra de arquitetura gótica foi a realizada por Suger ao reformar a fachada da Abadia de Saint-Denis. Entretanto, as primeiras esculturas em estilo gótico vão ser encontradas na Catedral de Charters, em Paris, na França. Inicialmente, essas esculturas apresentavam um aspecto estilizado, em que apenas os rostos das figuras parecem humanos e naturais.



Os túmulos esculpidos tornaram-se numerosos nessa época. A princípio, os escultores só decoravam os túmulos dos reis e de grandes personalidades. Normalmente, eram feitas imagens que reproduziam o aspecto dessas pessoas. Mais tarde também os cavaleiros e membros inferiores da nobreza conseguiram que escultores entalhassem figuras em seus túmulos.
Outra característica presente nesta primeira fase da escultura gótica é a ausência de emoções nos rostos das estátuas, que apresentam uma expressão absolutamente fria. São rostos que não riem nem choram. Fisionomias absolutamente impassíveis. Nelas, há uma total ausência de sentimentos e também de movimento.
Também não se dava importância à proporção dos corpos das estátuas em relação às cabeças. Muitas das estátuas da Catedral de Charters apresentam uma relação anormal entre corpo e cabeça. Era bastante comum o feitio de “estátuas-colunas”, pois a ausência de movimento dava à figura uma verticalidade que fazia dela quase um prolongamento do pedestal, tornando-se ela mesma como uma espécie de coluna. Para acentuar a falta de movimentos, essas figuras apresentam os cabelos e os fios das barbas escorridos, quase sem ondulação. As vestes também não apresentam dobras profundas. Essas são rasas, estilizadas, quase paralelas e apenas caem ao longo do corpo da estátua. Com o declínio da construção das igrejas, escultores passaram a decorar seus interiores com altares e figuras de santos.
Nessa segunda fase, as estátuas parecem animadas por vida e movimento, olhando-se solenemente com suas vestes fluídas. A simbologia da arte do período gótico é riquíssima em elementos que atestam a fé dos homens de então.
Além da escultura, essa simbologia aparece ainda nos vitrais coloridos, nas pinturas e nas ilustrações de manuscritos. A rejeição da frontalidade do período anterior é considerada um aspecto inovador, e a rotação das figuras passa a idéia de movimento, quebrando o rigorismo formal. As figuras vão adquirindo naturalidade e dinamismo, as formas se tornam arredondadas, a expressão do rosto se acentua e aparecem as primeiras cenas de diálogo nos portais.
As esculturas desse período atingem grande perfeição e equilíbrio. Procuram uma representação mais real de corpos. Essa estatuária não recusava representar as emoções e o movimento. As figuras fazem gestos, se voltam, não são mais estáticas. As suas vestes se movimentam também, dando ocasião de representá-las com dobras profundas e majestosas, ou então leves e delicadas. As estátuas desse período revelam emoções, mas sempre emoções equilibradas, sem excessos. Elas jamais gargalham apenas sorriem. Um exemplo típico disso são os magníficos anjos do sorriso que se podem contemplar na Anunciação de Reis ou na apresentação de Jesus no Templo. Outras obras primas dessa época são a Virgem dourada de Amiens, a serva da apresentação-no Templo de Reims e a inigualável escultura do Beau Dieu, de Amiens, ainda com alguns traços do gótico primitivo em seu rosto. Esse foi o tempo do chamado “gótico radiante”, do qual são obras típicas as catedrais de Reims, boa parte de Notre Dame, de Paris, e de Strassburgo.
Na terceira fase de desenvolvimento da arte gótica, conhecida como gótico flamejante ou gótico da decadência, que vigorou nos séculos XIV e XV, escultura tanto nas estátuas pequenas como nas grandes, as figuras tumulares apareceram muitas vezes com poses afetadas e rostos sorridentes.
Do belo equilíbrio da fase anterior, passa-se a um excesso que corrompe muito da beleza das obras. De modelos idealizados, passa-se a um realismo brutal. Fazia-se retratos o quanto mais realistas possível. Se a pessoa a ser representada tinha rugas, na estátua tinham que figurar as suas rugas. Se seu queixo era exageradamente pontudo, o escultor primava em fazê-lo tal qual era.
Assim, apareceram retratos brutais ou ridículos. O mercantilismo e o desenvolvimento do comércio e da urbanização deram grande progresso político e econômico para a burguesia, assim como favoreceram o absolutismo e o crescimento do papel do Estado. Isso tudo, junto com o individualismo crescente, impulsionaram a vaidade. Pessoas ricas, nobres ou burgueses, quando faziam doação de dinheiro para a construção de um altar em uma igreja, exigiam serem retratados, "piedosa" e um tanto vaidosamente ajoelhados aos pés dos altares que haviam financiado.
A preocupação com o real não recuou nem na representação do prosaico e até mesmo do obsceno. O flamejante se caracteriza pelo triunfo da curva e da contra curva, que vai produzir linhas sinuosas que parecem as de labaredas, por isso o nome do estilo. A contra curva é introduzida nas ogivas, nos arcos, e reina nas esculturas. Isto vai se casar com a preocupação absoluta de representação do real, e para eles o real era o corpo: a curva permitia a representação fiel dos movimentos dos corpos e dos rostos.
A estátua flamejante (flamboyant) é sempre extremamente emotiva, e suas emoções são sempre violentas: ou pranto ou gargalhada, ou terror ou prazer. Os rostos flamejantes já não têm paz. O gosto pela curva e pela contra curva faz os escultores se preocuparem em esculpir figuras com cabeleiras e barbas enormes e encaracoladas. O Moisés, de Claus Sluter, no poço da Abadia de Champmoll, em Dijon, é exemplo típico disso. O drapeamento também passa a ser riquíssimo e excessivo. E, para que as roupagens tenham curvas e contra curvas, elas são esculpidas como se estivessem agitadas por um vento impetuoso. Ao mesmo tempo em que se agitam, riem ou choram, as esculturas flamejantes perdem estatura. O módulo flamejante diminui. As esculturas, em geral, passam a ter tamanho menor.
Normalmente, prefere-se esculpir cenas e não mais pessoas isoladas. Exceção são os retratos de doadores, cuja "piedade" exigia figuras quase sempre em tamanho natural.
O século XIV viu a Europa ser atingida por uma das mais terríveis epidemias que houve na História: a peste negra. Esse flagelo dizimou a população européia no longo período em que grassou pelo continente. Calcula-se que tenha morrido mais da metade da população. As mortes eram bruscas, e a enfermidade durava pouco. O terror se espalhou por toda a parte. Foi esse pânico que suscitou toda uma série de expressões artísticas.
Na música, surgiram as canções terríveis, como os cantos da Sibila e as danças da morte. Na escultura, desenvolveu-se uma arte tumular de caráter mórbido, na qual os mortos eram retratados em estado de decomposição, devorados pelos vermes. Eram figuras desesperadas ante o mistério da morte. Essas figuras eram então totalmente diversas das figuras tumulares na época do gótico primitivo e do radiante.
No início da arte gótica e em seu apogeu, as figuras postas jacentes sobre os túmulos, os chamandos gisants, revelavam uma grande serenidade em sua tristeza calma. Essa atitude equilibrada diante da morte não se traduzia em indiferença, nem em desespero, mas acima de tudo em fé. A morte era vista como contrária à natureza, e, por isso, ela repugna, sendo impossível não encará-la como trágica. Porém, a redenção de Cristo trouxe esperança e a salvação da morte eterna.
Por isso, os gisants das primeiras fases do gótico eram tristes, mas esperançosos. E a esperança da vida eterna punha nas figuras esculpidas sobre os túmulos uma triste, mas serena paz. Os gisants do flamejante são desesperados. Esse desespero era resultante da perda da fé devido ao crescimento do materialismo e o apego às riquezas e à vida terrena.
(Fernanda de Christo, Iuri Minfroy e Tiago Silva)

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