28 novembro, 2009

Zeus ou Júpiter, o deus dos deuses
























Estátua de Zeus de Olímpia, obra de Fídias, escultor ateniense do século V a.C., uma das sete maravilhas do mundo antigo (imagem reconstruída, visto que a original perdeu-se, eventualmente por vandalismo, talvez cristão)

«O nosso Zeus é um Deus de paz de de clemência, como convém ao protetor de uma terra harmoniosa e unida que deixou de conhecer a discórdia. Representamo-lo pacífico e benevolente, numa atitude natural, pois não é ele que dispensa a vida e todos os bens, o pai comum, o conservador e salvador de todos os homens?... A majestade da sua atitude revela o rei que comanda como senhor; a expressão amável e doce faz pensar no pai e na sua providência; o ar grave e augusto dá a conhecer o zelador das cidades e o legislador. A semelhança humana que lhe conferi representa simbolicamente o parentesco dos deuses e dos homens. O riso e a bondade que emanam da sua fisionomia falam de um deus amigo, o deus dos suplicantes, da hospitalidade e do refúgio. Enfim, o deus da fecundidade e da abundância transparece nessa alma simples e grande, manifestada pela atitude e nobreza da estátua, e que convém aos imortais que têm prazer em nos cumular de todos os bens. Tais são as qualidades divinas que me esforcei por traçar, através da única eloquência que é a minha arte, sem me servir da palavra».
Palavras de Dion Crisóstomo, autor grego do século
I d.C., falando em nome de Fídias, escultor grego do século IV a.C., conforme O conflito entre o cristianismo primitivo e a civilização antiga, de Louis Rougier, editora Vega, p. 120. O mesmo Dion Crisóstomo diz, também a respeito da estátua, mas como que se dirigindo a Fídias, o seguinte:
«Tu!, o melhor e o maior dos artistas, como é deleitosa e cara a imagem que soubeste criar! Como é duradoura a alegria que ilumina o coração de todos, helenos e bárbaros, que aqui vieram. Se alguém de entre eles carrega uma alma trabalhada por desgostos, ou se, por ter bebido a última gota da taça da infelicidade, o doce sono deixou de o visitar, parece que, posto em presença desta estátua, tudo o que a vida comporta de amarguras e penas será nele abolido. Deste modo, concebeste e realizaste uma visão que dissipa o luto e traz lenitivo a qualquer dor. Uma vez que não conhecemos, entre todas as criaturas, senão uma que possui a razão, é lógico a ela recorrer para representar a razão invisível, e emprestamos a deus a forma do corpo humano por ser receptáculo do pensamento e do conhecimento. Na completa ausência do modelo original, procuramos manifestar o inexplicável e o invisível por meio da imagem visível. Damos forma à força do símbolo para prender o imperceptível.
Pode surgir a objeção de que melhor seria não ter diante dos olhos dos homens nenhuma estátua nem representação figurada dos deuses, sob o pretexto de que é preciso que o nosso olhar se dirija exclusivamente para as coisas celestes. Efetivamente, graças ao impulso que nos aproxima da divindade, existe nos homens um desejo violento de a adorar e servir, de ficar perto dela, de a abordar com o sentimento da sua presença real, de lhe oferecer coroas de flores e sacrifícios. Tal como as crianças estendem em sonhos os braços para os pais ausentes, também os homens desejam estar sempre mais perto dos deuses e na sua companhia».
(
Luis Guillermo)

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