Cronos
A figura enigmática de Cronos representou, na mitologia, um claro exemplo dos conflitos religiosos e culturais surgidos entre os gregos e os povos que habitavam a península helênica antes de sua chegada. Cronos era um deus da mitologia pré-helênica ao qual se atribuíam funções relacionadas com a agricultura. Mais tarde, os gregos o incluíram em sua Cosmogonia, mas lhe conferiram um caráter sinistro e negativo.
Na mitologia grega, Cronos era filho de Urano (o céu) e de Gaia ou Gê (a terra) , que tiveram 18 filhos, são eles: três Hecatônquiros, monstros com 100 mãos que administravam os terremotos; três ciclopes, os fabricantes de relâmpagos; e os titãs, seis irmãs e seis irmãos, dentre os quais, Cronos era um deles. Influenciado pela mãe e ajudado pelos irmãos, os Titãs, Cronos armado de uma foice que sua mãe lhe dera, corta os órgãos genitais do pai e os joga no mar, do sangue que se derramou sobre a terra procriaram os gigantes e da espuma formada no mar gerou-se Afrodite. Os Titãs destronaram seu pai, soltaram seus irmãos aprisionados e nomeou Cronos como seu rei.
Cronos aprisionou os Hecatônquiros e os ciclopes no Tártaro (lugar de tormento) novamente, logo ao tomar posse do reinado. Então Cronos casou-se com a irmã Réia, tiveram seis filhos, mas seu reinado era ameaçado por uma profecia segundo a qual um de seus filhos o destronaria. Para que não se cumprisse esse vaticínio, Cronos devorava todos os filhos que tinha com sua mulher (Réia), até que esta conseguiu salvar Zeus que quando cresceu, arrebatou o trono do pai, fazendo-o vomitar todos os outros filhos, ainda vivos e o expulsou do Olimpo, banindo-o para o Tártaro.
Zeus, filho de Réia e Cronos Cronos é considerado como sendo o senhor dos deuses durante o ciclo das divindades tenebrosas, época em que governavam as forças destrutivas. Segundo a tradição clássica, Cronos simbolizava o tempo, e , por isso,
Zeus, ao derrotá-lo, conferira a imortalidade aos deuses. Era representado como um ancião empunhando uma foice e freqüentemente aparecia associado a divindades estrangeiras propensas a sacrifícios humanos.
Saturno
Na mitologia romana, Cronos corresponde à Saturno. Divindade de origem itálica muito antiga, Saturno era um deus romano que foi sempre identificado com o deus grego Cronos.
Dizia-se que Cronos (agora Saturno) tinha vindo da Grécia para a península italiana depois de ter sido expulso do Olimpo por Zeus (Júpiter), seu filho, que o destronou e o atirou pela montanha abaixo. Júpiter, ou Zeus, tinha sido o único filho de Saturno salvo (pela mãe, Reia) de ser devorado pelo pai, que temia que algum dos seus descendentes lhe viesse a usurpar o trono.
Saturno, expulso da montanha sagrada, instalou-se então em Roma, na colina do Capitólio, onde terá fundado uma aldeia fortificada, Saturnia .
Outra versão alude ao facto de Saturno ali ter sido recebido por um outro deus oriundo da Grécia e ainda mais antigo que ele, Jano, a divindade bifronte. Jano habitava do outro lado do rio, numa colina que ficou chamada Janículo, em sua honra. A região de refúgio de Saturno ficou a chamar-se Latium, por aí se ter escondido (em latim, latere, estar escondido). Tornou-se assim o seu reino, rico e com um futuro promissor.
Terá sido Saturno, segundo a tradição, quem terá ensinado aos habitantes da região (chamados de aborígenes) a agricultura. Presidia igualmente às sementeiras, protegendo depois as culturas. Era o deus dos adubos, fertilizantes do solo. Para os camponeses, era por tudo isto o seu patrono. Também deu aos Aborígenes as primeiras leis, dando continuidade à obra civilizadora que Jano tinha começado. Foi esta a chamada "idade de ouro" itálica, tal era a prosperidade, paz e harmonia, desfrutadas. Saturno ficou a ser por isso um deus da "civilização", da Abundância (identificada com Reia). Naqueles tempos da idade de ouro, corriam rios de leite alternados com rios de néctar, e a terra produzia sem que fosse necessário o trabalho dos camponeses. Reinava a paz e a distribuição igualitária da terra e dos bens entre todos, como dizia Virgílio.
Saturno tinha como atributos, na sua representação iconográfica (em que surgia como um velho) uma pequena foice - que lhe servia para cortar o cereal nas searas, para podar as árvores e as vinhas, como servia também para castrar ou mutilar - ou uma serpe, conotando-se a sua lenda com a invenção e difusão do fabrico do vinho e da cultura e tratamento da vinha.
Os dias consagrados a este deus chamavam-se Saturnales, e eram os que encerravam o mês de Dezembro, que lhe era dedicado, pois era nesta altura que começava a germinação das plantas. As festas que nesses dias tinham lugar, as Saturnalias, entre 17 e 23 de Dezembro - que festejavam o solstício de Inverno, para fazer com que o Sol regressasse ao céu, bem como a abundância, a igualdade e a liberdade dos tempos dourados do reinado de Saturno no Lácio - tinham um caráter algo libertino e carnavalesco.
Eram um período de exceção no ordenado e disciplinado quotidiano romano, com encerramento das escolas e tribunais, pausa nas guerras e nos trabalhos políticos e administrativos. Durante estes licenciosos festejos, as classes sociais alteravam-se, sendo até abolidas por alguns dias.
Os escravos e servos eram então senhores, dando ordens e exigindo, e estes últimos faziam então de criados, servindo à mesa e obedecendo em tudo o mais. Era, pois a recordação de uma idade de ouro em que não havia distinção de classe e a liberdade a todos tocava.
Daí que no fim dos banquetes públicos que se realizavam nas festas, os mesmos em que se subvertiam as classes sociais, todos entoavam um hino em honra a Saturno, Io Saturnalia ("Viva as Saturnais"), uma memória e um apelo ao retorno da paz e riqueza da Idade de Ouro. O templo dedicado a Saturno em Roma existia desde o século V a. C.
Cronos devorando um de seus filhos.
SATURNO, por Goya
Vitorioso sobre o Céu, o titã Saturno uniu-se a sua irmã, Cibele, e nela engendrou uma multiplicidade de filhos. Entretanto, como a terra afirmasse que um de seus descendes haveria de subjulga-lo e tomar-lhe o trono, tal como ele próprio fizera com seu pai.
Saturno devorava os filhos, quando mal acabavam de nascer.
Este é o tema utilizado pelo espanhol Goya em uma de sua mais famosas telas. O quadro Saturno devorando a su hijo (Saturno devorando seu filho) é uma das pinturas à óleo sobre reboco que fazia parte da decoração dos muros da casa que Francisco de Goya adquiriu em 1819, chamada a Quinta del Sordo. Pertence, portanto, à série das Pinturas negras.
Há muitas explicações dadas na história da arte para esta imagem existente, alguma conexão psicológica feita à vida pessoal de Goya, que explica que através do seu relacionamento com seu filho Xavier, ou através de seu relacionamento com Leocádia Weiss, empregada doméstica, ou então como uma declaração sobre editorial velhice ou mesmo uma declaração política sobre o rei espanhol, em seguida, Ferdinand. Mas se Goya nada disse para explicar por que ele o pintou desta maneira. Assim, todas as explicações são suposições.
Ele tornou a imagem com rapidez e sem o brilho técnico e fino acabamento, Goya era bem capaz de fazer quando uma pintura especial, era para ser mostrado em público. Isso, provavelmente mais do que qualquer outra coisa, diz que Goya tinha pouco, ou nenhum, investimento em certificar-se um público-alvo compreendido na imagem.
Esboço do tema Saturno de Goya.
Saturno devorando su hijo (Saturno devorando um filho), Francisco de Goya,1819-1823
Óleo sobre reboco, transladado para tela, 146 cm × 83 cm, Museu do Prado, Madrid, Espanha.
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